quarta-feira, 12 de maio de 2010

Trilha sonora dos infernos


Mojica Marins não é e nem nunca foi músico (arriscou-se uma única vez, é verdade, interpretando a marchinha de carnaval Castelo dos horrores, de 1969, na qual cantava “Eu moro no castelo dos horrores / Não tenho medo de assombração / Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô eu sou o Zé do Caixão”). No entanto coleciona homenagens de artistas e bandas dos mais variados estilos. Desde a década de 60, início de sua carreira como diretor e ator, Mojica é citado em canções e já chegou a participar e dirigir videoclipes. Nada surpreendente em se tratando de um grande artista multimídia como ele.


Os Mutantes, em seu disco de estreia, citaram Zé do Caixão nos versos da canção Trem fantasma, composta pelo trio em parceria com Caetano Veloso. A música fala do brinquedo do parque e também das criaturas trazidas pela personagem. O ano era 1968 e Zé do Caixão já se fazia presente no inconsciente coletivo.


Por sua vez, em 1978 Zé Ramalho lançava seu segundo disco, intitulado A peleja do diabo com o dono do céu. O álbum fez bastante sucesso e lançou no mercado músicas que até hoje são hits do cantor, como Admirável Gado Novo e Frevo mulher. No entanto, mais sucesso ainda fez a capa do LP em que Zé Ramalho aparece junto de Zé do Caixão. Cinco anos depois, quando Mojica resolveu cortar as longas unhas em um programa de TV, Zé Ramalho foi convidado a cantar, sendo o responsável pela trilha sonora do evento. Depois disso, o cantor ainda lançou um cordel cujo título era A peleja de Zé do Caixão com o cantor Zé Ramalho.


Zé Ramalho e Zé do Caixão em capa de LP

E na década de 90, com o surgimento de várias bandas independentes no cenário musical nacional, Mojica fez a festa e se empenhou em apoiar alguns nomes. O grupo curitibano Boi Mamão foi um deles - os rapazes tiveram a honra de ter um videoclipe dirigido pelo cineasta. Já os paulistanos do Rock Rocket produziram um clipe no qual Zé do Caixão marca presença e ainda lança uma de suas terríveis pragas.


Outros que também fizeram parte da carreira de Mojica foram os integrantes da banda Sepultura. Na música Ratamahatta, com participação de Carlinhos Brown, Zé é colocado ao lado de Zumbi e de Lampião, numa homenagem que culminaria em um novo corte nas unhas de Mojica, só que desta vez ao vivo num dos shows da banda.


Derrick Green, atual vocalista do Sepultura, ao lado de Mojica


Em terras estrangeiras, o diretor também dá o ar de sua graça pelas mãos de outros artistas. Um exemplo é o grupo americano White Zombie, liderado por Rob Zombie, diretor e fã de filmes de terror. No último disco da banda antes da separação, Astro-Creep: 2000, lançado em 1995, a música I, Zombie, faz uma homenagem à Zé do Caixão. Ela começa reproduzindo trechos do filme O despertar da besta, feito por Mojica em 1970. E quando os músicos vieram ao Brasil em 1996 fizeram questão de conhecer o diretor, pai da assustadora personagem.


Integrantes do extinto White Zombie em visita à Mojica Marins

Em 2003 foi a vez da banda de heavy metal Necrophagia se inspirar no estranho mundo de Zé do Caixão. A história do filme À meia noite levarei sua alma foi recontada no CD The divine act of torture. Descrito pelos próprios músicos como muito pesado, violento e cheio de horror, o compacto presta uma homenagem ao diretor brasileiro (uma das faixas, inclusive, leva o nome Ze do Caixao). Tal homenagem foi retribuída por Mojica, que posteriormente dirigiu um dos clipes do grupo americano.


Capa do CD The divine act of torture, dos metaleiros do Necrophagia


Já em Londres, Zé do Caixão tem um sósia roqueiro, pelo menos no nome. O baterista da banda The Horrors, Joseph Patrick Spurgeon, é mais conhecido pelo apelido de Coffin Joe, nome no qual a personagem brasileira é chamada fora do país.


"Coffin Joe" inglês (de óculos) e sua banda

Sociedade da Grã-Ordem Mojiquista: homenagem ao "mestre"

Porém, pode-se dizer que o mais recente projeto musical que envolve o nome de Mojica Marins (literalmente) é o do grupo Sociedade da Grã-Ordem Mojiquista, criado em 2008 principalmente para homenagear o artista. Composto por integrantes de três bandas paulistanas – Cérebro Eletrônico, Jumbo Elektro e Odegrau –, o projeto especial traz músicas de letras sombrias e efeitos sonoros de arrepiar, todas inéditas e inspiradas em histórias de terror. Os músicos não pretendem transformar o projeto em uma nova banda, mas prometem realizar apresentações de tempos em tempos.

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