Zé do Caixão ao sair da prisão, em Encarnação do Demônio.
Em seu mais recente filme, Encarnação do Demônio, lançado no ano de 2008, José Mojica Marins provou mais uma vez que é um cineasta como nenhum outro. Realizado 40 anos depois de ter seu roteiro escrito (o argumento estava pronto desde 1967), foi o primeiro na carreira do diretor a receber incentivo do governo para ser rodado. O resultado não poderia ter sido melhor: a produção, segundo Mojica, “foi a mais rica, a mais perfeita de todas”, rendendo um longa-metragem impecável.
Em festivais no Brasil e no exterior o filme foi celebrado. Só no I Festival de Cinema de Paulínia, em 2008, Mojica ganhou sete dos quinze prêmios principais oferecidos pelo júri oficial, entre eles o de melhor filme do ano e, também, o prêmio da crítica como melhor longa-metragem. Foi aplaudido de pé pela plateia ali presente. No Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, ganhou como melhor direção de arte e efeitos especiais. Já na Espanha foi o vencedor do Festival de Cinema de Sitges, e no 65º Festival de Veneza o longa foi homenageado com uma exibição especial no programa Midnight Screenings, recebendo aplausos e a aprovação dos telespectadores (veja trailer do filme aqui).
As críticas negativas, no entanto, também apareceram. Para alguns fãs do saudoso Zé do Caixão, o fato de Mojica ter investido neste filme mais recursos do que jamais pôde investir em nenhuma outra película, comprometeu a essência da personagem e de sua história. A plástica, a estética bem acabada, os figurinos, os efeitos especiais de primeira, a fotografia... Zé do Caixão está rico, disseram as más-línguas, e perdera os traços marcantes de sua linguagem cinematográfica.
Apesar de tudo, esses comentários não chegavam nem perto do que outrora Mojica ouvia. Nos anos 60 e 70, o diretor acostumou-se às declarações de que Zé do Caixão era um paranóico, um doente mental. Proibiam-se suas fitas alegando que a personagem não respeitava as tradições, a crença popular e os preceitos das religiões – manifestava problemas psíquicos e desvios de conduta, sendo um mal exemplo a sociedade. A censura e os jornais da época tachavam seus filmes de produções pobres, disformes, ostensivamente nojentas, de uma estética grotesca, com sequências estúpidas e subversivas, reflexos da incultura de um homem pretensioso e incompetente.
Foram, como se pode imaginar, momentos difíceis para o cineasta. Entretanto, hoje ele conserva certo prestígio, adquirido graças aos anos em que lutou em defesa da liberdade de expressão e do cinema brasileiro. Prova disso foi a homenagem, oferecida em novembro de 2005, pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva que lhe entregou, em mãos, a medalha de Honra ao Mérito Cultural pelos seus serviços prestados à cultura do país. Finalmente, José Mojica Marins está sendo valorizado como um homem de cinema, merecedor de todo o reconhecimento cabível de sua importância.
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