sexta-feira, 30 de abril de 2010

Zé do Caixão vestido para matar

Zé do Caixão: malvado, porém chique

O mais temido de todos os coveiros deste país ressurgiu no ano de 2008 mais antenado com a moda. Acontece que Josefel Zanatas, ou para os mais íntimos, Zé do Caixão, após ter passado 10 anos internado em uma clínica para doentes mentais e 30 anos preso em uma penitenciária de segurança máxima, voltou às ruas trajando figurino fashion, assinado pelo badalado estilista brasileiro Alexandre Herchcovitch.

No inverno de 2004, o estilista já havia lançado no mercado uma coleção inteira inspirada nos filmes de José Mojica Marins, em uma homenagem aos 40 anos de carreira do cineasta. O sucesso foi tanto, que tal parceria se repetiu três anos depois, quando Herchcovitch, a convite de Mojica, desenhou alguns dos looks do filme Encarnação do Demônio, cujas gravações ocorreram em 2006/2007.

Herchcovitch na pré estreia do filme, em 06/08/2008

A modelo Geanine Marques interpretou a "Morte" em Encarnação.

O figurinista do longa David Parizotti contou com a ajuda do poderoso estilista para dar um ar mais moderno ao filme. A capa, o colete e a cartola de Zé do Caixão receberam uma nova versão criada por Herchcovitch, que cuidou também de algumas peças usadas por outros personagens, como a "Morte" e as "sete viúvas". Segundo Herchcovitch em entrevista dada ao portal G1, “o personagem [Zé do Caixão] ficou mais contemporâneo, porém continua extremamente clássico”. Zé pode até ter trocado de roupa em Encarnação, mas manteve a perversidade que tanto agrada aos fãs. Confira se tiver coragem.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Mais uma vez, terror

Aos 74 anos, José Mojica Marins continua em plena atividade. Depois de ter concluído a trilogia de Zé do Caixão, um sonho que já perdurava há décadas, o diretor se vê agora diante de um novo projeto. A inspiração veio da cidade de Pouso Alegre, sul de Minas Gerais, onde uma famosa lenda do começo do século XX amedronta até hoje os moradores da região.

A história conhecida por “Corpo Seco” fala de um homem de má índole, dono de um casarão no centro da cidade (que ainda existe), e que tinha por hábito maltratar sua mãe. Num certo dia, ele ficou doente e, sozinho em um dos cômodos da grande casa, foi definhando até morrer. Rejeitado por Deus e pelo Diabo, depois de enterrado também foi repudiado pela terra. Segundo a lenda, quem acompanhava o funeral pôde ver o corpo emergir da terra e ficar exposto sobre a cova.

Na cidade não há quem nunca tenha ouvido falar no ‘causo’. Muitos moradores, inclusive, o consideram verídico. Acreditam que o corpo apodrecido do morto nunca se decompôs e que ele continua a assombrar a área, chegando a ser avistado algumas vezes.

No longa, Mojica fará mais uma vez o papel do coveiro Zé do Caixão, que terá como missão enfrentar a assombração. "[...] Um ser do mal, que irá se transformar em um estuprador e fará várias vítimas, mas que será derrotado pelo Zé do Caixão", disse o cineasta em entrevista à revista Rolling Stone.

Segundo o diretor, o filme terá custo de R$ 2,5 milhões (um pouco mais do que Encarnação do Demônio, de 2008, custou para ser produzido). O roteiro já está escrito e se baseia no livro infanto-juvenil A lenda do Corpo Seco, da escritora Mariângela Padilha. As filmagens deverão começar em setembro de 2010 e as locações serão na cidade em que a história teria acontecido.

domingo, 25 de abril de 2010

Praga para quem quer praga

“Que a alma do maldito sob a cruz siga o rumo da peste e da agonia. Que teu espírito se cubra de dor, desgraça, vergonha, pústulas e tumores. Maldito no campo e na cidade. Maldito ao entrares e maldito ao saíres. Tua linhagem, se existir, que seja perseguida, fraca e desaventurada. Para teu cadáver, a terra será de ferro; e tua carne, amarga até para os vermes. Tua sombra profana errará eternamente sobre a Terra, ao lado dos desenganados...”

Praga rogada à Zé do Caixão, no filme Encarnação do Demônio.

São muitas as superstições presentes na vida das pessoas. Há quem acredite, por exemplo, na magia das palavras e dos pensamentos – que ao entoar orações ou mantras, confere-se energia a eles. Por outro lado, há também quem julgue que se estes estiverem carregados de sentimentos negativos, terão força suficiente para interferir na vida alheia.

Tradicionalmente chamadas de pragas, as “ameaças” verbais são, para os mais convictos, poderosas a ponto de amaldiçoar pra valer aqueles a quem são direcionadas. Elas são o contrário da bênção e costumam ser descarregadas em momentos de conflito.

Sabendo disso, Zé do Caixão, a maior referência do terror brasileiro, fez delas sua marca registrada. Em seus filmes as pragas estão sempre presentes, afrontando e aterrorizando os que têm fé. Mas, atire a primeira pedra quem nunca, num ímpeto de fúria ou raiva incontrolável, arrebatou coisas ruins para algum desafeto. Pois é, ninguém está livre de rogar ou de receber um maldizer.

No mais, acreditando ou não no “poder” sobrenatural de certas intenções, é sempre legal ouvir o temido homem de unhas enormes, capa preta e cartola esbravejar aos quatro ventos: Você! Você! E todos vocês...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Volta às telas

Reestréia hoje, à meia noite, no Canal Brasil, o talk show O Estranho Mundo de Zé do Caixão. No programa, o cineasta José Mojica Marins incorpora seu alter ego e principal personagem, Zé do Caixão, entrevistando celebridades e conhecendo o lado negro de cada uma delas.

Dirigido pelo jornalista e autor da biografia de Mojica André Barcinski, o primeiro episódio da terceira temporada tem como convidado o mutante Arnaldo Baptista. Segundo o Blog do Estadão, o músico foi ao programa com longas unhas postiças, em homenagem ao mefistofélico coveiro brazuca.

Nas edições anteriores, a farra malévola do Canal Brasil contou com a presença de entrevistados ilustres — e bizarros — como Luciana Vendramini, Xico Sá, Sidney Magal, Inri Cristo e outros. Para esta temporada, os contos macabros correrão por conta de Ritchie, Padre Quevedo, Rogério Skylab, Washington Olivetto e mais perturbados de plantão.

Como diz o mestre do calafrio: “Que você fique preso eternamente escutando axé caso não assista o programa de hoje”.

Porn Marins IV: O fim da saga


Começar este texto dizendo que Mojica é isso ou aquilo não é preciso. No último post pornográfico deste blog, vamos direto ao ponto G. O sucesso obtido com o terceiro longa erótico que leva o nome de Marins e Mário Lima na direção, 24 Horas de Sexo Explícito, animou os diretores. Lima não titubeou e resolveu investir parte do lucro na produção de 48 Horas de Sexo Alucinante, contratando mais de trinta dos melhores profissionais da Boca.

Marketeiro de plantão, Mojica resolveu se promover misturando ficção e realidade, iniciando este quarto filme com uma cena que mostra as filas num cinema que exibia 24 Horas. Após isto, Lima e o mentor de Zé do Caixão são chamados para uma reunião com doutora Margareth, sexóloga especialista no estudo do sexo entre animais. A ‘profissional’ se propõe a bancar uma outra película da dupla e revela ter um sonho de infância: fazer sexo com um touro.

No enredo da fita, os diretores / atores tentam encontrar meio de realizar a tara da doutora. Eles acabam construindo uma vaca mecânica, na qual Margareth figuraria em seu interior confortavelmente e atrairia, assim, algum touro ouriçado para consumação do sexo animal / humano. Contudo, o plano não dá muito certo e a vaca humana acaba tendo de se contentar com um sujeito vestido de bumba-meu-boi. Ainda assim, feliz por ter seu desejo de infância consumado, a doutora celebra o sucesso de seu “estudo” com Mário Lima e Marins.

Insucesso

No fim das contas, 48 Horas não causou o impacto esperado. Seu antecessor, 24 Horas de Sexo Explícito, foi melhor recebido por ter ar de novidade — já que trouxe às telas tupiniquins, praticamente pela primeira vez, a zoofilia. No entanto, a inovação de Mojica acabou virando um tiro no pé, vez que, após o sucesso de 24 Horas, diversos diretores da Boca acabaram copiando a ideia e transformam o entorno numa verdadeira arca de Noé. Por conta disso, 48 Horas não chocou o público.

Mário Lima havia prometido investir o lucro que obtivesse num novo filme de Zé do Caixão. Infelizmente, a bilheteria foi bem abaixo do esperado e não sobrou grana para Mojica filmar o tão sonhado Encarnação do Demônio à época.

O que restou disso para o público e para o próprio Mojica foi a prova de que com pensamentos do além e excentricidade, mesmo no cinema pornô, pode-se causar estardalhaço e superar expectativas. O surreal, o inadmissível, o genial, o bizarro, o lisérgico e o improvável sempre fizeram, e sempre farão, parte da obra de Marins.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Mostra em SP exibe filmes caseiros feitos em todo o país

Filmes de baixo orçamento têm lugar garantido na 2ª edição da mostra Cinema de Bordas, que começa amanhã (21/04) e vai até domingo (25/04) no espaço Itaú Cultural. Serão exibidas 13 produções feitas com pouquíssimo dinheiro, por cineastas amadores de todo o Brasil.

Com curadoria de Bernadette Lyra e Gelson Santana, a seleção traz às telas filmes dos gêneros policiais, horror, ficção científica, kung fu, histórias em quadrinhos, faroeste e comédia, produzidos "às bordas" do cinema comercial ou artístico.

A maior parte dos participantes são diretores apenas nas horas livres - poucos se dedicam exclusivamente ao cinema. É o caso, por exemplo, de Liz Vamp, filha de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Liz participa da mostra com seu curta de estreia Aparências, que teve custo total de R$ 5 mil, e já participou de festivais em Portugal.

Já o gaúcho Felipe Guerra apresenta o filme mais barato da mostra. Para fazer o longa Entrei em pânico ao saber o que vocês fizeram na sexta-feira 13 do verão passado, ele gastou inacreditáveis R$ 250. Vale a pena conferir e surpreender-se.

Cinema de Bordas. Até dia 25/04/2010. No Itaú Cultural - Av. Paulista, 149 (próximo à estação Brigadeiro do metrô). Tel.: 2168-1700. Programação completa em www.itaucultural.org.br. Entrada franca.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Três vezes Mojica

Para quem não viu e para quem gostaria de rever, Encarnação do Demônio será transmitido na próxima segunda-feira, dia 19 de abril, às 22h, no Canal Brasil, 66, da NET. Nas palavras de Mojica, o filme “é a bíblia do terror em toda a América Latina. Uma história que reúne todos os elementos que os amantes do gênero apreciam: espectros, torturas e cenas violentas. Zé do Caixão ressurge na metrópole para concretizar sua missão e busca a mulher ideal para gerar seu sucessor”. Desfecho da trilogia do Zé do Caixão, iniciada com os longas À Meia-Noite Levarei sua Alma (1963) e Esta Noite Encarnarei no seu Cadáver (1966), Encarnação do Demônio é um filme imperdível.

Já os mais corajosos, podem conferir o mestre do terror ao vivo e a cores. Mojica, na virada do mês, participará pessoalmente de duas atividades promovidas pela Secretaria Municipal de Cultura da prefeitura de São Paulo.

Dia 29 de abril, quinta-feira, às 18h30, ele falará sobre sua participação no filme do Cinema Novo, O profeta da fome, de Maurício Capovilla, lançado em 1970. Inspirado no ensaio A estética da fome, de Glauber Rocha, o longa conta a história de um faquir que ficou famoso por praticar jejum. O encontro, programado pelo Centro de Memória do Circo, acontece no Cine Olido e tem entrada gratuita.

Já no dia 1º de maio, sábado, às 21h, o diretor irá incorporar Zé do Caixão para contar uma história de terror antes da apresentação da coletânea de filmes de horror, Fear(s) of the dark. A sessão gratuita integra a mostra Criança Entra, Criança Não Entra; e será exibida em um telão montado na praça do cemitério Vila Nova Cachoeirinha, próximo ao Centro Cultural da Juventude, na Zona Norte*.

*Fonte: revista Em Cartaz (Guia da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo).

sábado, 10 de abril de 2010

Zé do Caixão e o espírito cristão

Há poucos dias festejamos a Sexta-feira da Paixão e a Páscoa. Nesta época, em meio à bênçãos, procissões e orações, pessoas se reúnem com seus familiares e, em volta da mesa, saboreiam o já tradicional bacalhau e também os deliciosos ovos de chocolate. Devido a isso, o Descida ao Inferno resolveu prestar uma homenagem à data no melhor estilo Zé do Caixão.

Para quem não sabe, a Sexta-feira da Paixão ou Sexta-feira Santa, como também é conhecida, é o dia cristão que marca o julgamento, a condenação, o martírio, a morte e o sepultamento de Jesus Cristo. Nesse dia é lembrado o momento em que Ele percorreu a Via Sacra, carregando a cruz até o local no qual seria crucificado. Em razão disso, o silêncio, o jejum com base na abstinência de carne e a prece fazem parte dos rituais do dia. Já a Páscoa celebra Sua ressurreição e é o dia santo mais importante da religião cristã. Entretanto, Zé do Caixão pensa diferente...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Discípulos do cinema maldito

A chave para se compreender o universo de Mojica Marins passa pela aceitação – ainda que não necessariamente a apreciação – do horror como um gênero com valores e regras particulares [...]. Muito mais estranho é o mundo de Zé do Caixão àqueles que rejeitam as emoções baratas das quais o próprio cinema de horror se fortalece; um cinema que, ainda que carregado de grafismo – ou, talvez, justamente por causa disso – não deixa de falar também à mente, penetrando nos corredores mais sombrios de nosso subconsciente, onde se ocultam as taras e os desejos inconfessáveis.

Carlos Primati, jornalista e pesquisador de cinema de horror


Dennison Ramalho e José Mojica Marins.

Foto de Eduardo Knapp/Folha Imagem


O cinema nacional de uns tempos para cá respira novos e bons ares. Muitos nomes têm despontado e produções de ótima qualidade são lançadas todos os anos. Poucos, apesar disso, se arriscam a embrenhar no gênero horror. Não fosse o trabalho de alguns jovens cineastas e de produtoras independentes o terror no Brasil estaria com os seus dias contados.

Ainda bem que nomes como o de Rodrigo Aragão, Christian Saghaard e Dennison Ramalho, influenciados pelo trabalho de José Mojica Marins, surgem para dar novo fôlego ao estagnado terror nacional. São eles os responsáveis por obras como Mangue negro, O fim da picada e Amor só de mãe, respectivamente. Porém, os mesmos reconhecem que existem dificuldades para que o gênero alavanque de vez no país, ocupando posição de destaque dentre as demais produções nacionais.

O motivo? Bem, infelizmente filmes brasileiros (em geral) são tidos como ordinários e agressivos. Um equívoco que, em sua maior parte, é causador do preconceito que muitas pessoas carregam e que acaba por retardar o progresso do cinema nacional.

E se os filmes brasileiros precisam combater certas resistências por parte do público, quem dirá, então, as películas de terror. Afinal, estas sim são feitas propositalmente para não agradar – surgem para causam aflição e medo, entre outras emoções perturbadoras.

Está claro que o fazer cinema no Brasil precisa de mais incentivos, não só por parte de governos e instituições, como também do público espectador. E o horror, nesse ponto de vista, é um dos que mais sofre pela falta de apoio e de prestígio.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Porn Marins III: O lado animal do cinema pornô

O alter ego do personagem Zé do Caixão nunca gostou muito de fazer coisas que pessoas normais fazem. Em 1963, José Mojica Marins resolveu introduzir o terror no cinema num país onde o gênero pouco tinha sido visitado — e, de certo modo, deu certo. Depois, no filme Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, criou um inferno tão atípico onde, acreditem, nevava; e até o coisa ruim estranhou quando viu flocos de gelo em seu lar. Neve no pretenso reino das chamas? Vai entender. Em meio à ditadura militar, meados de 1967, fez testes do além na TV, exibindo em rede nacional aspirantes a ator beijando caveiras, comendo baratas e outras fanfarras. Marins é de longe doido varrido.

Quando figurou no cinema pornô não foi diferente. Os primeiros dois filmes do gênero em que participou da direção, A Quinta Dimensão do Sexo (1983) e O Filho do Sexo Explícito (1984), tiveram lá suas peculiaridades, mas nada tão assombroso. Foi no terceiro longa que ele passou para o lado negro da força.

Bem vindo ao Zôo

O amigo Mario Lima novamente convida Mojica para dirigir uma nova empreitada: 24 Horas de Sexo Explícito. A história, se é que existe, perpassa por três atores pornôs que resolvem fazer uma maratona com 24 horas de sexo. Para não ficar na mesmice, Mojica convenceu o parceiro a utilizarem um cachorro nas filmagens. O argumento era que as atrizes do longa eram tão feias, que seria necessário chamar outro elemento para dar cara ao filme. E foi isso que aconteceu. O que Mojica vislumbrava não era novidade no Brasil, vez que Jean Garret já havia feito, em 1977, um filme onde um cavalo lambia os seios da atriz Helena Ramos. Mas isso foi fichinha se comparado à proposta de 24 Horas.

Recrutando bons atores

Jack era um pastor alemão famoso entre as cadelas locais por sua virilidade. Os dois diretores de 24 Horas não pestanejaram em trazê-lo para a equipe. O argumento inicial era que o cão desse apenas algumas lambidelas na atriz Vânia Bournier. Contudo, durante as filmagens, o Rocco do mundo animal se empolgou tanto que Mojica acabou convencendo a parceira do cão a simular uma cena de penetração. Jack não titubeou e mandou ver.

O sexo animal deu certo. Mario Lima ganhou uma fortuna, Jack ficou famoso, passando a figurar até nas páginas do jornal Notícias Populares e Mojica, como sempre, recebeu apenas seu salário de diretor e ficou duro — sem conotações sexuais aqui. O sucesso do filme deu margem a outros diretores da Boca, que começaram a transformar o entorno cinematográfico numa verdadeira arca de Noé. O diretor Juan Bajon, recordista das peripécias animais no cinema, filmou em dois anos onze longas animais: Sexo a Cavalo, Meu Marido — Meu Cavalo, Seduzida pelo Cavalo, A Garota do Cavalo, Loucas por Cavalos, Mulheres e Cavalos, Duas Mulheres e um Pônei, Júlia e os Pôneis, Viciadas em Cavalos, Tudo por um Cavalo e, finalmente, Um Homem, uma Mulher e um Cavalo.

O mais triste foi o fim de Jack. O cão apareceu morto por envenenamento poucas semanas depois. Há uma anedota de que o crime fora cometido pelo dono de Jack — que o matou após vê-lo uivando e atacando por trás sua própria esposa. Mojica perdeu seu melhor ator, mas continuou atuante no pornô, contratando outros animais. Mas essa parte fica para o final da saga pornográfica, no próximo post.

domingo, 4 de abril de 2010

Além dos outros


Falar de José Mojica Marins é uma tarefa e tanto. Discorrer em palavras os maiores e menores passos de um cineasta, literalmente brasileiro, é poder embarcar nos delírios intensos de um amante incontrolável do gênio popular.
Poucos foram aqueles que souberam retratar o folclore nas telas de cinema. No entanto, muitos foram os que criticaram as obras de Mojica, um dos poucos que conseguiu criar cenas entre o medo e a realidade.
A carreira de Mojica se construiu através de experimentos da arte. Ele não precisou fazer um curso para se especializar em cinema. Simplesmente traçou uma aliança com a sua maior paixão – a câmera e suas ideias do além.

O cineasta que o diabo encarnou


“Quarenta anos, Bruno. Quarenta anos de resistência. Aggghhhhh! [...] Pensam que eu estou vencido, enfraquecido pelo tempo. Não! Os homens de verdade jamais se entregam."

Zé do Caixão ao sair da prisão, em Encarnação do Demônio.


Em seu mais recente filme, Encarnação do Demônio, lançado no ano de 2008, José Mojica Marins provou mais uma vez que é um cineasta como nenhum outro. Realizado 40 anos depois de ter seu roteiro escrito (o argumento estava pronto desde 1967), foi o primeiro na carreira do diretor a receber incentivo do governo para ser rodado. O resultado não poderia ter sido melhor: a produção, segundo Mojica, “foi a mais rica, a mais perfeita de todas”, rendendo um longa-metragem impecável.

Em festivais no Brasil e no exterior o filme foi celebrado. Só no I Festival de Cinema de Paulínia, em 2008, Mojica ganhou sete dos quinze prêmios principais oferecidos pelo júri oficial, entre eles o de melhor filme do ano e, também, o prêmio da crítica como melhor longa-metragem. Foi aplaudido de pé pela plateia ali presente. No Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, ganhou como melhor direção de arte e efeitos especiais. Já na Espanha foi o vencedor do Festival de Cinema de Sitges, e no 65º Festival de Veneza o longa foi homenageado com uma exibição especial no programa Midnight Screenings, recebendo aplausos e a aprovação dos telespectadores (veja trailer do filme aqui).

As críticas negativas, no entanto, também apareceram. Para alguns fãs do saudoso Zé do Caixão, o fato de Mojica ter investido neste filme mais recursos do que jamais pôde investir em nenhuma outra película, comprometeu a essência da personagem e de sua história. A plástica, a estética bem acabada, os figurinos, os efeitos especiais de primeira, a fotografia... Zé do Caixão está rico, disseram as más-línguas, e perdera os traços marcantes de sua linguagem cinematográfica.

Apesar de tudo, esses comentários não chegavam nem perto do que outrora Mojica ouvia. Nos anos 60 e 70, o diretor acostumou-se às declarações de que Zé do Caixão era um paranóico, um doente mental. Proibiam-se suas fitas alegando que a personagem não respeitava as tradições, a crença popular e os preceitos das religiões – manifestava problemas psíquicos e desvios de conduta, sendo um mal exemplo a sociedade. A censura e os jornais da época tachavam seus filmes de produções pobres, disformes, ostensivamente nojentas, de uma estética grotesca, com sequências estúpidas e subversivas, reflexos da incultura de um homem pretensioso e incompetente.

Foram, como se pode imaginar, momentos difíceis para o cineasta. Entretanto, hoje ele conserva certo prestígio, adquirido graças aos anos em que lutou em defesa da liberdade de expressão e do cinema brasileiro. Prova disso foi a homenagem, oferecida em novembro de 2005, pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva que lhe entregou, em mãos, a medalha de Honra ao Mérito Cultural pelos seus serviços prestados à cultura do país. Finalmente, José Mojica Marins está sendo valorizado como um homem de cinema, merecedor de todo o reconhecimento cabível de sua importância.