quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Lima Duarte, Tony Ramos, ou por que alguns são astros e outros não

Por André Barcinski

Estou no Rio de Janeiro, gravando a quarta temporada de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, o talk show do Canal Brasil apresentado por José Mojica Marins, que dirijo e produzo.

Nos últimos dias aconteceram alguns fatos curiosos, que achei legal dividir com vocês.

Fato 1: consegui o e-mail de contato de Lima Duarte. Escrevi, fazendo o convite para ele participar do programa como entrevistado. No dia seguinte, uma assessora de Lima me respondeu, dizendo que ele havia aceitado. Ficamos felicíssimos. No dia da entrevista, o carro que levava Lima Duarte pegou um engarrafamento monstro e levou 2h15 para chegar ao estúdio. Mesmo assim, ele chegou para a entrevista num bom humor contagiante. Simpático ao extremo, não fez nenhuma exigência (ok, ele pediu um cafezinho) e deu uma entrevista SENSACIONAL, com revelações incríveis sobre sua infância e carreira. Trabalho em jornalismo desde 1987 e poucas vezes vi um entrevistado tão aberto e à vontade.

Fato 2: consegui o contato de um jovem comediante de stand up, que está fazendo relativo sucesso. Mandei um e-mail, e nada. Dois e-mails, e nada. Três e-mails, e ainda nenhuma resposta. Liguei para a agente. Ela me mandou para uma assessora de imprensa, que me redirecionou para uma assistente pessoal, que simplesmente ignorou uns 34 telefonemas e recados. Nem resposta tivemos.

Fato 3: consegui um telefone de contato de Tony Ramos. Liguei e deixei um recado, convidando-o para o programa. Dois dias depois, meu telefone toca. Era o próprio Tony Ramos, aceitando o convite. Nem preciso dizer que ficamos, novamente, nas nuvens.

Fato 4: depois de algumas semanas de negociação com um jovem músico carioca, durante as quais ele mudou a data da entrevista pelo menos cinco vezes, o galã finalmente marca um horário para ser entrevistado por Zé do Caixão. O carro vai buscar o artista no local e horário marcados, mas ele não está. Nem sinal. O telefone está mudo. Esperamos por mais de duas horas, e finalmente desistimos.

Acho que fatos como esses revelam muito sobre o modus operandi da indústria do entretenimento hoje no país.

Como regra, artistas veteranos não têm agentes ou aquela tropa que circula a maioria dos artistas jovens. A Velha Guarda é pré-hype. Gente que tem o que dizer, tem história pra contar, e não se esconde atrás de um batalhão de assessores. Foi assim com Agildo Ribeiro, Paulo Silvino, Ney Matogrosso, Lima Duarte e tantos outros.

Claro que, para toda regra, existem exceções: já fizemos entrevistas ótimas com artistas jovens – e acessíveis – como Selton Mello, Leandro Hassum, Pitty e até o NX Zero. Da mesma forma, já levamos canos de veteranos. Mas que existe uma diferença grande, existe. Tanto que, nesta temporada, não conseguimos nenhuma entrevista com alguém abaixo dos 40. E bem que tentamos.

Fiquei pensando no abismo que existe entre Tony Ramos e o tal cantor que sumiu no dia da entrevista. O primeiro é um astro, com uma história e uma importância gigantes na cultura pop nacional, e não se sente nem um pouco diminuído ao pegar, ele mesmo, o telefone e marcar uma entrevista. O segundo, mesmo tendo de comer muito feijão para ter um pedacinho da credibilidade e dos fãs do primeiro, se sente o Michael Jackson.

Hoje rola a entrevista de Tony Ramos. Depois conto como foi...

Texto originalmente publicado aqui.

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