domingo, 21 de novembro de 2010

Uma descida ao inferno de Zé do Caixão

Zé do Caixão reúne características únicas: ele polemiza e assusta até os mais céticos, causa repulsão ao debochar da crença alheia, ao desafiar tanto a existência de Deus quanto a do Diabo e ao ridicularizar tudo e todos que ousam cruzar seu caminho. Eis uma visão sobre o medo, a aversão e os demais sentimentos despertados pela personagem.

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Data: 08/12/2010 Horário: 20h30 Local: Centro Universitário FIEO (bloco amarelo) End.: Av. Franz Voegeli, 300 - Vila Yara - Osasco/SP Realização: Daiana Sousa ׀ Dênis Matos ׀ Marcela Alves Orientadores: Paula Veneroso ׀ Jorge Grinspum Avaliadores: Aurélio Eduardo do Nascimento ׀ Luiz Fernando Ramos

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Foto: Murilo Ribas

O inferno pode ser de gelo, pode ser de fogo e pode ser de flores. Depende de como você se sente. Em qualquer lugar que você esteja, se entrar na completa solidão penetra no inferno.

José Mojica Marins, o Zé do Caixão.


Uma descida ao inferno de Zé do Caixão. Em breve.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ele era uma figura que causava mais medo nos anos 1960 do que veio a causar depois. Em grande parte porque ele foi parando de fazer filmes do Zé do Caixão e acabou virando aquela figura de aparecer na televisão, da escola de atores, em que ele tinha que ter alguma coisa meio mambembe, meio de circo, meio engraçada...

Laura Cánepa, autora da dissertação de mestrado "Medo de quê? - Uma história do horror nos filmes brasileiros".


Uma descida ao inferno de Zé do Caixão. Em breve.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Infelizmente o cinema dele sofre de preconceitos por todos os lados. Um cinema de terror, um cinema brasileiro, um orçamento que não se compara aos dos filmes americanos. E o Mojica está dentro desse caldeirão de preconceito, no meio dessa guerra.

Kiko Goifman, antropólogo e cineasta


Uma descida ao inferno de Zé do Caixão. Em breve.

domingo, 14 de novembro de 2010

O universo de Mojica Marins (1978)

Média-metragem que promove um passeio pelo insólito mundo de José Mojica Marins, no qual as leis da racionalidade entram em pânico. O diretor Ivan Cardoso homenageia seu ídolo explorando sua obra e revelando não apenas a singularidade de sua estética, mas também a criação de uma mitologia brasileira moderna na figura do Zé do Caixão, um ícone sem comparações.

FICHA TÉCNICA

Título: O universo de Mojica Marins
Duração: 26 min.
Ano: 1978
País: Brasil
Gênero: Documentário
Cor: Colorido

sábado, 13 de novembro de 2010

Zé do Caixão é livre e não teme, então ele é sobre-humano, ele é trans-humano. Não é uma massa, não está perdido numa massa morfa ou massificada. Ele tem uma assinatura, tanto que é plenamente reconhecido.

Maria Lucia Homem, psicanalista e autora de artigos sobre literatura, cinema e psicanálise


Uma descida ao inferno de Zé do Caixão. Em breve.

Mojica é um cara que fez vários filmes que representam, sim, muito bem o país, e que mostram uma visão super válida, concorde você com ela ou não. Mas é difícil discutir esse preconceito porque é uma coisa tão ampla, tão enraizada em nossa cultura, que já virou clichê falar disso.

André Barcinski, jornalista, diretor e produtor do programa "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", no Canal Brasil.


Uma descida ao inferno de Zé do Caixão. Em breve.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ele não assiste tanto filme quanto algumas pessoas podem pensar... Uma vez ele falou para mim ‘o meu negócio é fazer filme, não é ficar vendo’ e eu achei genial e falei ‘o meu negócio é ficar vendo, eu não sei fazer (risos)’. Então, às vezes, cobram coisas do Mojica que se ele fosse mais arrogante ele falava ‘cara, eu fiz mais de 30 filmes, não me enche o saco porque eu não sei quem é o Mel Gibson’, como uma vez cobraram dele, ‘ué, você não sabe quem é o Mel Gibson?’, e ele falou ‘eu não sei quem é esse cara’.

Carlos Primati, jornalista, crítico, historiador e pesquisador de cinema de horror.


Uma descida ao inferno de Zé do Caixão. Em breve.

domingo, 7 de novembro de 2010

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“Zé do Caixão é um homem persistente, ele vai naquilo que acredita. Passaram-se 40 anos e ele continuou atrás do que acredita. Eu acredito muito na persistência, defendo isso demais e quero morrer defendendo. Eu vi muitos amigos meus, que tinham tendência para serem grandes cineastas, desistirem após a primeira queda. E eu que não tinha força nenhuma, não tinha grana, acreditei, bati, bati, fui chamado de louco e fizeram o que fizeram comigo”.

José Mojica Marins, abril de 2008.

sábado, 6 de novembro de 2010

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"O terror tem algumas coisas da infância. Fui criado dentro de cinema. Meu pai já fazia coisas que eram terror. Era toureiro e, desde os dois ou três anos eu via coisas que eram um terror danado. Ele sentava na cadeira, punha um lenço na boca, e o touro tinha que arrancar com o chifre o lenço da boca dele".

"No cinema eu ficava olhando, aos seis ou sete anos, e notei que quando vinha o terror, as meninas se apavoravam e se jogavam nos braços dos meninos. Isso me deu interesse. E até hoje o homem assiste a um filme desses e passa uma noite agradável com a mulher".

"Além disso, eu tinha um amigo que contava histórias de terror e todos gostavam. Quando ele morreu fomos ao seu velório, e a viúva dizia ‘volta, volta!’. E, de repente, ele estendeu a mão, começou a se levantar, e fugiu todo mundo. Só fiquei eu e mais uns garotos. O homem não tinha morrido... Teve catalepsia. Mas depois disso a mulher não quis viver mais com o cara, ninguém quis dar trabalho pra ele... E o homem acabou enlouquecendo, foi parar num manicômio onde veio a falecer. No enterro fui o único do bairro que compareceu. E aquilo começou a me perturbar muito. O que vem depois da morte? As pessoas pedem para voltar, mas não querem que volte?"

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Dia do cinema brasileiro

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cinema

[De cinematógrafo] S.m. 1. Arte de compor e realizar filmes cinematográficos. 2. Cinematografia. 3. Projeção cinematográfica. 4. Sala de espetáculos onde se projetam filmes cinematográficos. O cinema foi criado pelos irmãos Lumière em 1895; tornou-se sonoro em 1927, depois falado. Após múltiplas tentativas, beneficiou-se com a cor.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Em Brasília, a maior atração ainda é o horror *

Zé do Caixão e Satã: Os Poderes do Horror na Praça dos Três Poderes

* Por Jairo Ferreira, para Folha de S. Paulo em 27 de julho de 1978.

BRASÍLIA – Além de um rigor excessivo e injustificado na seleção dos filmes da programação oficial, reduzidos em quantidade (apenas seis longas e dez curtas metragens) e também em qualidade (essa mosca branca), o 11º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro está introduzindo outra novidade: o fim da "mordomia", ou seja, nem mesmo as pessoas que vieram trabalhar – gente de cinema em geral, jornalistas em particular – estão recebendo credenciais, para não falar em outras comodidades mais caras. O certame, como se sabe, é organizado (leia-se desorganizado) pela Fundação Cultural do Distrito Federal que, sem dúvida, tem o direito de convidar ou não quem bem entender, mesmo que isso seja visto como elitismo, algo multo antipático, pois nasce daí um perigoso sentimento de intolerância, a defesa do Interesse de "minorias selecionadas" contra os interesses gerais do cinema brasileiro que, a essas alturas, deixa de existir ou então passa a existir absurdamente.

Afinal, o que é o cinema brasileiro? Essa confusão que se vê aqui à beira da piscina do Hotel Nacional, com burocratas de terno anotando nomes de atrizes que nunca apareceram em filme algum, diretores respeitáveis de filmes conhecidos passando o vexame de verificar que seus nomes não constam na lista de convidados, cineastas do corpo tentando um dialogo impossível com cineastas da alma? Isso é cinema nacional? Ou é desinformação dos organizadores deste festival, que já foi (há dez anos atrás) o melhor do País?

Explicar o que é o cinema brasileiro a partir de um festival como este seria realmente uma tarefa ingrata, porque aqui estão ao mesmo tempo todas as suas aberrações e também todas as suas virtudes. Aqui está José Mojica Marins, o popular Zé do Caixão, cineasta que inventou um cinema de grossura total, passeando pelos corredores de um hotel que lembra o dos filmes dos Irmãos Marx, encontrando-se à beira da piscina com Walter Hugo Khouri, o cineasta que inventou a finura do cinema brasileiro. Aqui está Ivan Cardoso, cineasta experimental que faz questão de cumprir a sua sina: experimenta tomar banho de piscina, experimenta conversar com os cineastas do chamado "cinemão". E o curioso é que tudo isso está dando certo: até parece que a confraternização existe.

Há dez anos atrás, Rogério Sganzerla ganhou bem este festival com "O Bandido da Luz Vermelha", um filme que torna-se mais antológico a cada ano que passa. Ontem Rogério chegou aqui, mas conversou pouco: não conseguia esconder uma grande mágoa, pois o seu filme "O Abismu" foi recusado para a mostra oficial. Quando lhe perguntam o que achou de ter sido boicotado, ele responde "tudo bem", mas num tom de voz muito humilde que quer significar exatamente "tudo mal". Enfim, ele já fez um manifesto contra a boçalidade e está esperando que a queda do bocal seja provocada pelo próprio. Seu filme "O Abismu", que quero inclusive rever para entender melhor, passará aqui amanhã à meia-noite e deverá provocar as reações já esperadas, uns achando que é genial, outros dizendo que é pra lá de péssimo, pra lá de Bagdá. inclusive porque a ação se passa no continente perdido da Atlântida.

Neville de Almeida é outro cineasta que teve seu filme – "A Dama do Lotação" – recusado neste festival e, claro, não está nada satisfeito, inclusive porque não está gostando da comida que servem aqui mediante a apresentação de alguns "tickets" distribuídos a convidados muito especiais. "Eu acho que meu filme "A Dama do Lotação" é melhor do que qualquer um deste festival, não foi feito para ganhar dinheiro, como pensam alguns, mas para virar a mesa. Isso eu acho que consegui e não vou dar explicações a uma fauna de eunucos que não gosta do filme. Acho também um absurdo um país que faz cem filmes por ano ter apenas um ou dois festivais (Brasília e Gramado) para exibir pouco mais de dez filmes. Quero sugerir que sejam feitos festivais também no Rio, São Paulo, Manaus etc, única forma de dar oportunidade a todos, sem que um atrapalhe o outro".

Poucas pessoas estão comentando os filmes da mostra oficial exibidos até agora: "Chuvas do Verão", de Carlos Diegues e "O Curumim", de Plácido de Campos Jr., este feito para a televisão como piloto de série. Todos os comentários são para a mostra paralela intitulada "O Horror Nacional", que começou com a exibição de "O Rei do Baralho" e "Agonia", ambos de Júlio Bressane. Porém, em vez de comentar agora esses dois filmes e as reações que provocaram aqui, parece mais oportuno reproduzir um dos raros textos deste (Bressane) que talvez seja o mais talentoso cineasta brasileiro de todos os tempos, escrito aqui mesmo para José Mojica Marins, cujo "A Sina do Aventureiro" (seu primeiro filme, feito em 1956/57) abriu a mostra de horror – embora trate-se de um bangue-bangue – anteontem numa movimentada sessão da meia-noite:

"A Sina" ensina alguns pontos (luminosos) em preto-branco:

1 – Novo corte na janela da câmera. Lente de cinemascope das cavernas. Recorte novo do espaço (jaula) quadrilátero da tomada: limpeza das margens, algo que antecipa visualmente o cinema moderno à Godard. Cinema muito especial com lente inventada para o próprio filme.

2 – História da infâmia nacional, filme de interior (dos Brasis) - o mundo do capanga; do caboclo sanguinário; do estupro; do punhal; dos cavalos esqueléticos; do truco; da pinga. O estado larvar do banditismo brasileiro/faroeste com/ em carne viva.

3 – Nova representação, nova expressão, nova fala: a fala cabocla (da tribo). Música caipira narrando a lenda que é o próprio filme: todos os lugares (IN) comuns do filme de cowboy de cinema poeira. E outros mais! Uma kafkiana foto de mulher atravessa o filme. Retrato-enigma: lapidar escolha de clichê.

4 – Cinema-descoberta: o cinema compreendido já como montagem (raridade na cinematografia brasileira) e montagem sentida como choque, conflito, ideograma.

5 – Cinema generoso que sugere ao espectador vários caminhos. E não um único caminho para todo o público! Descubra nesta aventura o seu atalho, a sua sina, sabendo logo que todos eles nos levam lá".

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Post originalmente publicado aqui.

Jairo Ferreira foi crítico, cineasta, ator, fotógrafo de cena e jornalista. Escreveu o livro Cinema de Invenção, clássico da bibliografia sobre cinema brasileiro.