quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Mojica lamenta o fim do Belas Artes

Por Cláudio Leal, para o Terra Magazine.

Depois de vários sobressaltos e ameaças, o anúncio do fechamento do cinema Belas Artes, em São Paulo, comove os seus espectadores. Criado em 1943, um dos redutos históricos dos cinéfilos paulistanos, a casa em breve sobreviverá em necrológios, dentro da tendência de extinção dos cinemas de rua.

O primeiro susto foi o corte do patrocínio do banco HSBC, em março de 2010. Uma campanha por sua sobrevivência garantiu novos patrocínios para o Belas Artes. Mas, no dia 30 de dezembro, o proprietário, André Sturm, recebeu a notificação de que o aluguel não seria renovado; uma loja substituirá o cinema.

Frequentador do Belas Artes, o cineasta José Mojica Marins, o lendário Zé do Caixão, revela uma "tristeza imensa". E ataca, unhas em riste, o desinteresse do Estado por qualquer tipo de arte: "Aqui ninguém se apega a porra nenhuma! Todo mundo está cometendo besteiras, principalmente os políticos em geral".

Terra Magazine - Como o senhor avalia o fechamento do histórico cinema Belas Artes, em São Paulo?
José Mojica Marins - Acho que tudo virou uma zorra total. Aqui ninguém se apega a porra nenhuma! Vejo isso como uma idiotice de outras coisas que estão fazendo. Todo mundo está cometendo besteiras, principalmente os políticos em geral. Agora, só pensam em poder, não pensam em realizar coisa nenhuma. E assim estão sendo os exibidores: fecham, não procuram saber mais nada do público, não dão mais satisfação. Não é como no passado, quando você tinha cinco mil cinemas em São Paulo. De repente, você ia para o exibidor, havia troca de ideias, muito legal. Hoje não tem nada disso.

E os cinemas com preços populares?
É. Foram fechando, fechando... Não sei. Tinha que entrar uma pessoa meio cinéfila, que goste da arte do filme dentro dos planos políticos, para começar a nos ajudar em alguma coisa que nos interessa. Não é só o problema de fechar cinema. Hoje, não estão dando bola nem para o teatro. Não dá pra entender.

A tendência de fechamento dos cinemas de rua prejudica a cinefilia? Em geral, elas não são as casas mais abertas aos filmes independentes?
É prejudicial à cultura, ao cinéfilo... Parece que eles não querem mais que se faça cinema aqui. É prejudicial ao público, que fica sem opção de nada. Isso dá uma tristeza imensa. Em lugar de progredirmos, estamos regredindo.

Qual é a memória do senhor do cinema Belas Artes?
Eu ia de vez em quando, quando eu via uma fita realmente diferente que me interessava, no passado. Eu ia.

Nesse caso, deveria haver uma intervenção da prefeitura, do Estado? Foi uma questão boba, de aluguel.
Que falar com prefeitura... Eles estão em outro mundo! Ninguém está pensando em arte. Ou seja, teatro, televisão, cinema. Quem está no poder só está pensando em si, no bem-estar da família... e acabou!

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Saiba como foi a campanha "Salve o Belas Artes: Tudo Pode Dar Certo" em http://patrocineocinemabelasartes.blogspot.com.

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