quarta-feira, 17 de março de 2010

Porn Marins I: A penetração no mundo do sexo explícito

O ator e diretor de cinema José Mojica Marins atuou nas mais diversas esferas da esquisitice. Já foi candidato a deputado federal — notadamente fazendo campanha com o nome Zé do Caixão —, já apresentou talk show de horror na TV, já hipnotizou o “rei” Roberto Carlos e causou outras sandices por aí.
É fato que as peripécias do decano do calafrio não pararam por aí. Em meados de 1983, Mojica estava — para variar — no esgoto. Há alguns anos não filmava nada, dedicando-se somente aos testes macabros que realizava na TV Bandeirantes com seus alunos e voluntários. As dificuldades apareceram e ele precisou utilizar a máxima nietzscheniana de que a tragédia seria criadora da forma.
O cinema brasileiro também caminhava meio manco. O sexo explícito reinava nas telonas tupiniquins e o terror de Mojica não tinha espaço. Para se ter ideia, de 1981 a 1990, dos 697 filmes produzidos no Brasil, 425 eram pornôs; o que correspondia a 61% do mercado, segundo a biografia de Marins Maldito, escrita pelos jornalistas André Barcinski e Ivan Finotti. Além do gosto popular pelo carne com carne, o mercado era fomentado por este tipo de produção por conta do baixo custo e da facilidade de produzir. Um filme do gênero podia ser rodado em duas semanas, com apenas quatro técnicos — já que a grande movimentação acontecia frente às câmeras e não atrás destas. Já um longa “normal” demorava no mínimo dois meses e precisaria de uma equipe muito maior.

Caindo na putaria

O jeito era remar com a maré. Seu parceiro Mario Lima foi quem fez o convite. Chamou Mojica para dirigir A Quinta Dimensão do Sexo, drama erótico — bizarro, diga-se de passagem — sobre dois amigos estudantes de medicina que, frustrados com os sucessivos fracassos com mulheres, criam espécie de elixir afrodisíaco para deixar as garotas cheias de desejo.
Na lama, é claro que o papa do terror topou. O filme termina com final tenebroso, quando os dois protagonistas, indecisos sobre suas próprias opções sexuais e em meio aos testes insanos com o elixir, acabam por matar literalmente uma garota de prazer. O trauma os leva a compreender que estavam apaixonados um pelo outro, descobrem que são gays e morrem, juntos, num acidente de carro. Dramalhão total.
Como a história era um tanto pesada para época, principalmente por tratar o homossexualismo, a Censura somente permitiu que a película fosse exibida com medida cautelar. Estrategista de longa data, Mojica convenceu Mário Lima a rodar uma cena de sexo explícito para atrair mais público. De certo modo funcionou. Eles conseguiram exibir o filme no Cine Windsor; reino do pornô da época e cinema preferido dos gays. No entanto, semanas antes do lançamento de A Quinta Dimensão, a direção do Windsor proibiu os freqüentadores de transarem dentro da sala. Como forma de protesto, os homossexuais decidiram boicotar o cinema e o filme não conseguiu ficar nas telas nem por um mês.
Mojica não se fez satisfeito e continuou atuando no mundo do sexo explícito num segundo filme. Mas controlemos os desejos, isso já é estória para outro post.

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