terça-feira, 11 de maio de 2010

Parte VII - De A Sina do Aventureiro até Zé do Caixão


A vida dos Marins mudou mais uma vez. A proprietária do Cine Santo Estevão resolveu alugar o prédio para uma fábrica de ferragens. A família conseguiu alugar um quarto na casa de uns amigos próximo ao Cine. Mojica nem ligava para a situação, havia deixado a escola aos 13 anos, alegando que começaria a trabalhar. Mas, o que desejava mesmo era se dedicar ao cinema.Aos 17 anos, começou a trabalhar como aprendiz de maquinista numa fábrica de fósforos. Lá fez muitas amizades, principalmente com as mulheres. Os homens não gostavam muito, pois o achavam metido. Quando alguém perguntava qual era a sua profissão, Mojica enchia a boca para falar “diretor de cinema”.Devido à sua prepotência, certa vez se envolveu numa briga num bairro vizinho e, na ocasião, conheceu Hélio Bolim, outro amante de cinema.Mojica estava com uma equipe grande e já pensava na produção de alguns longas, mas para isso, precisavam também de dinheiro. Foi então que teve a ideia de recolher cotas equivalentes a 50 cruzeiros. Em junho de 1953 o cineasta reuniu a turma e criou a Companhia Cinematográfica Atlas. Tornava-se um chefe de um “estúdio cinematográfico”. As divulgações sobre a Companhia ganharam espaço nas mídias. O galinheiro já não comportava a turma e as pessoas que começavam a frequentar o local. Com o apoio de Hélio, transferiram-se para um galpão vazio no bairro da Freguesia do Ó. Nascia, assim, a Indústria Cinematográfica Apolo.A indústria funcionava como uma escola de atores, mais com um detalhe intrigante. O professor ou mestre, como assim gostava de ser chamado, era nada menos que o próprio Mojica. Ele cobrava mensalidades de 150 cruzeiros e com esse dinheiro começaram a produção de alguns filmes, Sentença de Deus e No Auge do Desespero.Nessa mesma época Mojica conheceu a artista Rosita Soler com quem viria se casar em fevereiro de 1957. Foi o seu primeiro casamento.A inexperiência de Mojica começava a afetar as produções dos filmes. A Sentença e No Auge foram um fracasso e abalou a confiança do diretor.Marins passou por mais algumas produções. A Sina do Aventureiro um faroeste brasileiro, no qual o produtor fez uma participação como um capanga de um bando, foi o primeiro longa estreado em dezembro de 1958.O filme proporcionou para Mojica algumas das primeiras lições com a censura. O filme não agradou o Serviço de Censura de Diversões Públicas, órgão responsável pela classificação etária dos filmes. Sina ficou proibida para menores de 18 anos, arruinando o rendimento da bilheteria.B.J. Duarte, crítico da Folha da Tarde não mediu palavras para tratar da produção de Marins: “O resultado é precário, a surdir inexperiência e improvisação a cada metro da película projetada, a denunciar em todos os setores da criação cinematográfica aquela falta de preparo técnico e intelectual que vem caracterizando o cinema brasileiro […]Não duvido um só instante das boas intenções de José Mojica Marins, das de seus companheiros de equipe, das de quantos participaram de sua realização […] mas, apenas com sinceridade, fé e confiança em si próprio, não se faz cinema, não se faz literatura, nenhuma arte se realize plenamente. É mister um aprendizado geral, é necessária a cultura do espírito, impõe-se o conhecimento da técnica, sem o que nunca se fará nada, a não ser obras medíocres e vacilantes” (BARCINSKI; FINOTTI, 1998, p.81).

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