quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Conpresp dá sobrevida ao Belas Artes

Órgão iniciou processo de tombamento do prédio, o que impede reformas sem autorização durante análise do caso, o que levará 90 dias

Por Rodrigo Brancatelli

O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) abriu ontem o processo de tombamento do cinema Belas Artes, na Rua da Consolação, região central de São Paulo. Com a decisão, o prédio que abriga o cinema está "congelado" - não poderá sofrer reformas sem autorização enquanto o tombamento é analisado, o que deve durar até 90 dias.

Isso deve frustrar, pelo menos temporariamente, os planos do dono do edifício, Flávio Maluf, que rescindiu o contrato de aluguel com o cinema e pretende entregar o espaço para uma loja. Até o momento, no entanto, o fechamento do Belas Artes continua marcado para o dia 27.

A abertura do processo significa que o Conpresp admitiu a possibilidade de o edifício ter valor histórico e cultural e, por isso, precisa de tempo para analisá-lo. Não significa a salvação imediata do Belas Artes; o proprietário pode fechar o cinema e mantê-lo assim enquanto o tombamento é discutido. Mas até a decisão definitiva sair, nenhuma modificação pode ser feita no imóvel - ou seja, uma loja não poderia demolir as salas nem alterar a configuração interna do endereço.

Os conselheiros do Conpresp, no entanto, estão longe de ter uma ideia do que fazer com o Belas Artes - muitos deles chegaram a ficar irritados com o lobby de políticos na última semana para proteger o cinema. "Tem muito padrinho, muito cacique, todo mundo falando sobre isso", diz o vereador Adilson Amadeu (PTB), representante da Câmara Municipal no Conpresp. "Se o governo quer tanto salvar o Belas Artes, por que não colocam lá no prédio do Detran? Precisamos analisar esse tombamento muito bem, afinal, o proprietário vai ficar marcado com isso para o resto da vida. Vamos fazer um estudo detalhado dessa situação, não decidimos nada ainda."

O pedido de tombamento foi protocolado no Conpresp na terça-feira da semana passada pela organização social Via Cultural. Foi resultado da pressão popular que já existia contra o fechamento do Belas Artes, que ganhou força quando o ex-governador José Serra (PSDB) "anunciou" o tombamento em um post no Twitter. "Semana passada sugeri ao prefeito (Gilberto) Kassab que tombasse o prédio. Hoje, falei com o (Carlos Augusto) Calil, secretário da Cultura sobre isso", continuou. "Tive a boa notícia: o tombamento vem na terça-feira", finalizou Serra, dando como certo um processo que ainda precisa ser discutido.

Na reunião de ontem, os advogados de Flávio Maluf afirmaram que apenas buscam a atualização do valor do aluguel do imóvel e que o proprietário será penalizado com o tombamento. André Sturm, sócio-proprietário do Belas Artes, diz que o dinheiro nunca foi o tema central da discussão. "Já tínhamos acertado a continuidade do contrato, concordamos em pagar mais de aluguel, mas o proprietário disse: "Cinema é decadente, quero colocar uma loja no meu imóvel", e não houve mais diálogo." Maluf não se pronunciou.

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